sexta-feira, 6 de maio de 2011

Os Gurus do Consumo



Dentre todos os “perigos” que se avizinham ao ideal da Nova Era, o que mais me preocupa é o movimento dos Gurus do Consumo. Esse nome é dado por mim a todos os chamados espiritualistas, norte-americanos na sua maioria esmagadora, que divulgam a teoria de você pode tudo e o Universo está mais do que disposto a dar o que você quer. Bem, isso de fato é verdade, nossos pensamentos moldam nossa verdade e nossa realidade!... Pra começo de conversa me perturba o fato de que os verdadeiros autores dessas teorias nem sempre são citados nos vídeos e palestras desses gurus capitalistas. Só para mencionar um caso, foi a russa Helena P. Blavatski quem primeiro mencionou em sua obra A Doutrina Secreta a tese das formas-pensamento. Ou seja, qualquer coisa que for pensada com muita intensidade, emoção e freqüência vira uma realidade! Blavatski fundou a Sociedade Teosófica, cujo principal objetivo era justo o de criar uma sociedade que se dedicasse a estudar todos os temas religiosos e sagrados sem o viés dogmático das religiões e longe do materialismo que a ciência da época propunha, e que persiste ainda hoje! 

 The Secret, uma seleção de valores sociais bem centrados na cultura americana com seus anseios e temores.

Vídeos documentários como O Segredo produzido por Rhonda Byrne lança os “grandes professores desse segredo” que segundo Rhonda foi escondido da humanidade... Escondido?... Bem, os gurus produzidos e liderados por ela rezam pela velha cartilha da teoria da conspiração que os americanos adoram! Teses de conspirações governamentais secretas para ocultar alienígenas, explodir o World Trade Center... E agora roubar o grande segredo da felicidade humana. O que de fato acontece é a exploração da ignorância espiritual da humanidade, bem como da preguiça mental que reina no mundo todo. É difícil ler a Doutrina Secreta, é uma obra densa e um tanto rebuscada, afinal afirma o que até então nunca havia sido dito ou escrito. É bem mais fácil ligar um vídeo de uns americanos paranóicos, mas com cara de bem sucedidos, que insistem que alguém nos roubou algo muito precioso e... Espiritual!...


Filósofos, autores, e até físicos aparecem para dizer que você pode ter tudo, contam sua própria história de vida e garantem que a felicidade está logo ali! Quero salientar mais uma vez que concordo com tudo isso, sei que funciona. O que me dá arrepios é justamente a falta de visão holística e consciência ambiental proposta por esses Gurus. No vídeo O Segredo, o mais nocivo, a meu ver, o “visionário” Michael Beckwith chega a afirmar que a idéia mais perigosa que temos hoje divulgada na humanidade é a de que não há o bastante para todos! O que é uma mentira! Afirma ele. Nesse mesmo vídeo Jack Canfield diz com um indisfarçável orgulho que ele tem a vida que muitos sonham e mora numa bela casa de 4,5 milhões de dólares!... Isso depois de que o filósofo Bob Proctor afirme que 96% de toda a riqueza do mundo está na mão de apenas 1% da humanidade. Então resta a pergunta: E se 5% da humanidade decidisse morar em casas de 4,5 milhões de dólares? Casas essas que se utilizam de madeira, cimento e água entre outros recursos naturais que estão sendo dizimados no planeta. Veja bem 5%, não precisa ser todo mundo! Eles alegam que a maravilha de O Segredo é que nem todos querem a mesma coisa, por isso há o suficiente. Mas se apenas 5% da humanidade quisesse viver em casas milionárias, seria o suficiente para destruir o resto das florestas tropicais, das madeiras de lei, e destruir o que resta da camada de ozônio da atmosfera, com fábricas de cimento, por exemplo! Essa gente vive nesse planeta? É claro que todo esse discurso é regado com as palavras Universo e, de vez em quando, Deus!...

 A maioria da humanidade ainda ignora que o planeta é um organismo vivo e que muitos de nós se portam como parasitas dentro desse organismo.

Puxa!... Dá até vontade de dizer um palavrão! O que nós precisamos é resgatar a consciência indígena que diz que devemos tomar nossas decisões refletindo sobre a conseqüência delas para as gerações futuras, até a sétima. O que uma casa de milhões de dólares pode nos proporcionar para nosso corpo e nossa alma que uma pequena casa confortável não possa? Quando buscamos algo muito maior do que nós mesmos, algo que transcenda nossas vivências conhecidas ou vividas até então, estamos na verdade buscando Deus. Todas as buscas grandiosas são uma busca por Deus. As mentes pequenas é que não conseguem ver Deus, as mentes simples, aquelas que querem nos fazer acreditar que Deus é para os ignorantes, uma superstição, ou fantasia porque eles assim como disse Tolstói “Olham para uma floresta e veem apenas lenha”. Portanto, quem parece mais obtuso? Nós precisamos é recuperar a capacidade ver a divindade em todas as coisas, e não apenas nas aquisições materiais. De crer em algo não porque foi comprovado por algum órgão científico, e não raro, norte-americano. Precisamos crer em algo por nossas próprias descobertas intuitivas e experimentação. 
Não se trata de excluir a ciência, mas de agregar a ela algo mais sutil, que de preferência não reforce o materialismo que nos trouxe a onde estamos hoje, esse período de preocupante urgência ecológica, desequilíbrio social e violência... Tudo causado por uma ânsia de felicidade vinda de aquisições materiais oriundas dos recursos de um planeta que quase não tem mais esses recursos. O que faremos quando esse mundo morrer? Seguiremos em busca de outros, como parasitas? Ou iremos nos alastrar pelo Cosmo feito células cancerosas? É isso que queremos ser? Destruidores de mundos? É isso que pregam esses gurus da felicidade americanizada?  O que essa nação tem para nos ensinar não vem de seu povo branco consumista, que tem o mais alto índice de consumo de drogas, obesidade, infartos, alcoolismo e violência doméstica do mundo. A sabedoria da América vem dos verdadeiros americanos, aqueles que habitavam as matas, honravam os ancestrais e zelavam pelos herdeiros de sua cultura sem exaurir ou destruir a terra: os índios, que sofreram um holocausto pouco mencionado e foram confinados a reservas federais onde vivem uma vida miserável sem, contudo, enfraquecer a força de sua cultura e sabedoria que se alastra pelo mundo influenciando muitos setores do pensamento humano.
 Sim, a vida é infinitamente próspera e tem o bastante para todos desde que isso não seja desculpa para que você habite uma casa que ocupa um espaço enorme, espaço este que terá de ser desmatado para ser construído, tirando o direito do outro de também ter espaço para viver. E de usar recursos como madeira e água que estão escassos não só para a humanidade, mas para todos os outros seres vivos que aqui vivem e dividem conosco o delicado equilíbrio da trama da vida que nos faz existir nesse lindo planeta azul! Dizer que toda a humanidade, ou uma porção significativa dela, pode viver em carrões e mansões suntuosas, é como dizer a uma pessoa com obesidade mórbida que pode comer tudo o que quiser porque o seu corpo pode absorver infinitamente tudo o que ela quiser consumir, ou seja: É uma mentira! E eles mentem não porque sejam eles os inimigos da verdade, mas simplesmente porque é isso que se acostumaram a ouvir e a buscar na sua cultura de consumo. É mais fácil passar um verniz num velho conceito (Nesse caso uma filosofia pseudo-espiritual), do que realmente deixá-lo ou transformá-lo. Cabe a cada um de nós discernir sobre o que realmente é importante para a nossa existência enquanto indivíduos, sem esquecer de que estamos num planeta finito como tudo na existência, e de que fazemos parte de uma espécie que pode decidir se essa existência será longa ou breve.